Dengue mata farmacêutica grávida em Barra do Choça; Prefeitura de Conquista declara situação de emergência epidemiológica

A emergência epidemiológica declarada, nesta terça-feira (20/02), pela Prefeitura de Conquista é razão das doenças dengue, zika e chikungunya 21 de fevereiro de 2024 Rose Aguiar

Gabriela Gomes Santos, 29 anos, grávida de quatro meses, morreu na última terça-feira (20/02), de dengue grave, em Barra do Choça, localizada a 27 km de Vitória da Conquista. A informação é da Secretaria de Saúde do município, sendo a primeira morte pela doença na localidade.

A vítima era farmacêutica, formada pela Faculdade Independente do Nordeste (Fainor) e, atualmente, era estudante de mestrado em Biociências pela Universidade Federal da Bahia (UFBa). Deixou o esposo, Menandro Santos Silva, 32, com quem estava casada há dois anos, dois irmãos e a mãe. Seu pai morreu de covid-19, durante a pandemia.

Segundo uma amiga da vítima, que preferiu não se identificar, os primeiros sintomas da doença apresentados por Gabriela, na segunda-feira (19/02), foram sangramentos fortes pelos ouvidos. Ela foi então para o Hospital Municipal José Maria de Magalhães Netto, em Barra do Choça, onde foi atendida e morreu após consecutivas paradas cardíacas um dia depois. “As complicações se agravaram rapidamente entre a noite de segunda e a manhã de terça-feira.”  A mãe já havia sido diagnosticada com dengue e a sobrinha, que também ficou doente, ainda está com a doença sob investigação médica.

A gestante era portadora da anemia falciforme, uma condição de anormalidade de hemoglobina nos glóbulos vermelhos do sangue. Apesar dessa complicação, sua gravidez evoluía de forma tranquila, relembrou a amiga. “Ela estava fazendo pré-natal e estava tudo bem.”

A dengue é uma doença viral transmitida pelo mosquito Aedes Aegypti, o paciente contaminado pela segunda vez com a doença tem tendência de a infecção se manifestar com maior gravidade. Como a doença pode se manifestar de forma assintomática ou com sintomas leves, que podem ser confundidos com um resfriado, uma pessoa pode se infectar sem saber. Não há ainda a informação se a vítima tinha tido a doença anteriormente.

A morte de Gabriela comoveu o município de Barra do Choça. A Prefeitura lançou nota de pesar pelo falecimento da farmacêutica e o velório ocorreu nesta manhã de quarta-feira (21/02), na quadra poliesportiva do Centro Educacional de Barra do Choça, localizado na Praça do Estudante, no centro da cidade. O sepultamento, realizado no mesmo dia, ocorreu no cemitério público do município.

Epidemia de dengue na Bahia

No estado da Bahia, são 23 municípios já identificados pela Secretaria Estadual de Saúde com a epidemia de dengue, de acordo com o boletim epidemiológico. São eles: Anagé, Belo Campo, Bonito, Botuporã, Brejões, Condeúba, Encruzilhada, Feira da Mata, Ibiassucê, Ibicoara, Ibitiara, Igaporã, Ipiaú, Iramaia, Irecê, Jacaraci, Matina, Morro do Chapéu, Mortugaba, Novo Horizonte, Piripá, Rodelas, Vitória da Conquista. Desse total, 15 em negrito são da região Sudoeste.

Barra do Choça, cidade em que Gabriela morava, não está nessa lista de municípios epidêmicos. A Prefeitura informou que a morte dela é o único óbito do município até o momento. Em boletim epidemiológico, divulgado na noite desta terça-feira, de 1° a 20 de fevereiro, foram notificados 103 casos suspeitos. Desses casos, três foram confirmados, com uma morte, 100 estão sob investigação, com quatro pessoas internadas no hospital municipal.

A Prefeitura ainda informou que tem realizado ações de conscientização para prevenção e combate da doença e o recolhimento de entulhos, pneus e demais objetos que possam servir de reservatório para a proliferação do mosquito da dengue. Também tem sido realizadas visitas dos agentes de saúde e de endemias nos bairros e a intensificação do trabalho e de ações para reduzir o número de casos no município.

Em todo o estado da Bahia, já foram confirmados 8.674 casos, com três mortes confirmadas até a última segunda-feira, 19 de fevereiro. A morte de Gabriela Santos Gomes ainda não faz parte deste levantamento.  O problema da epidemia de dengue não é apenas estadual, mas nacional, nesse início de 2024. Já foram diagnosticados 653.656 casos, conforme atualização do Ministério da Saúde do dia 19 de fevereiro. Os casos devem aumentar até o mesmo de junho, quando as temperaturas tendem a diminuir, o que evita a proliferação do mosquito transmissor do vírus.

Conquista

A terceira maior cidade da Bahia, Vitória da Conquista, a Prefeitura declarou situação de emergência, nesta terça-feira (20/02), em razão do cenário epidemiológico das doenças infecciosas virais, como dengue, zika e chikungunya. O decreto é o 23.098, que já disponível no Diário Oficial.

Até o momento, segundo a Secretaria Municipal, já foram notificados 1.901 casos suspeitos e confirmados 322 para dengue, um para zika e 21 para chikungunya. Todas essas doenças são transmitidas pelo mesmo mosquito.

Em situação de emergência, o poder executivo municipal poderá fazer a adoção de todas as medidas administrativas e assistenciais necessárias à contenção do aumento da incidência de casos, é o que destacou o secretário de Saúde do município, Vinícius Rodrigues.

As ações de enfrentamento envolvem a intensificação do trabalho dos agentes de combate às endemias, com mutirões de limpeza, coleta de pneus, campanhas educativas e os bloqueios com bombas costais nos locais com maior incidência de focos do mosquito.

Dengue e os sintomas

Por muito tempo, a forma mais grave da dengue foi chamada de “dengue hemorrágica”. No entanto, a comunidade médica parou de usar esse termo. Em 2009, a Organização Mundial da Saúde (OMS) passou a usar “dengue grave”, e o Ministério da Saúde adotou essa mudança em 2014.

“O termo dengue hemorrágico remete à hemorragia e o que mata na dengue não é a hemorragia, é a desidratação. Temos relatos de várias situações em que os próprios pacientes não identificam seus sintomas de agravamento por conta do nome errado dengue hemorrágica”, afirma o epidemiologista André Ribas Freitas, professor da Faculdade São Leopoldo Mandic, em entrevista ao G1.

A forma mais grave da dengue é a hemorrágica, que provoca dor abdominal intensa e sangramento. Segundo o Instituto Butantã, os sintomas clássicos de dengue são: febre alta, manchas vermelhas pelo corpo, dor ao redor dos olhos e dores musculares e nas articulações.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o paciente pode entrar na chamada fase crítica da doença depois de três a sete dias do início dos sintomas, quando a febre começa a baixar. Nesse momento, sinais da dengue grave podem se manifestar:  dor abdominal intensa, vômito persistente, às vezes com sangue, sangramento nas gengivas ou nariz, dificuldade respiratória, confusão mental,  fadiga, aumento do fígado, queda da pressão arterial,  sangue nas fezes.

Ao apresentar esses sintomas, o infectado necessita de atendimento médico imediatamente. As próximas 24 a 48 horas seguintes são determinantes para evitar complicações da doença e morte.

Foto destacada: Arquivo pessoal

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