Professor aposentado da UEFS é agredido com socos em Salvador
As publicações da vítima no seu perfil do Facebook contra a homofobia e o racismo do candidato à presidência, Jair Bolsonaro (PSL), podem ter sido a motivação da violência 22 de outubro de 2018 Karina CostaDomingo pela manhã, 21, em Salvador, quatro jovens brancos e musculosos atacaram o professor aposentado da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), Alberto Heráclito Ferreira, 57 anos. Ele voltava da procissão de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, no Pelourinho, quando tudo aconteceu, e foi salvo por um mototaxista que intercedeu em seu favor.
De acordo com informações do professor, os agressores deram murros em sua barriga enquanto o xingavam de “seu viadinho comunista, você vai morrer”. “Eu fui à procissão e na volta estava a caminho do ponto de ônibus no viaduto do Largo dos Paranhos, quando fui pego por quatro jovens brancos corpulentos. Eles começaram a dar murros na minha barriga e a me xingar. Aí, apareceu um mototaxista que disse ‘larguem o coroa’ e eles saíram correndo”.
Heráclito então foi a 6ª Delegacia do Bairro de Brotas para registrar um Boletim de Ocorrência. Durante essa semana, ele fará o exame de corpo delito e vai procurar o Ministério Público em busca de apoio legal. Após o ocorrido, ele também fez uma publicação no seu perfil do Facebook relatando a violência sofrida, onde deixou claro: “não tenho medo de fascista”. Em seguida, amigos se pronunciaram com mensagens de apoio e ofereceram ajuda.
Sobre a motivação da violência, o professor acredita que seja por causa das suas publicações na rede social contra os posicionamentos homofóbicos e racistas do candidato à presidência, Jair Bolsonaro (PSL). “Eu estava de saia voltando da procissão”, explicou. Além disso, ele contou que há uma semana a sua rede de internet pessoal foi hackeada e seu nome mudado para Bolsonaro 2018. “Eles invadiram o meu computador de mesa, o meu notebook, a minha internet, o meu email. Só estou podendo usar o celular desde então”.
Outras agressões
Levantamento realizado pela Agência Pública em parceria com a Open Knowledge Brasil identificou mais de 70 ataques por apoiadores de Bolsonaro em todo país do dia 30 de setembro até 11 de outubro. Os dados por região são os seguintes: 14 no Sul, 33 no Sudeste, 18 no Nordeste, 3 no Centro-Oeste e 3 no Norte. Essas agressões têm acontecido contra professores, membros da comunidade LGBTQ+ e eleitores do candidato à presidência, Fernando Haddad.
Na Bahia, ainda nesse mês de outubro, também em Salvador, outro professor foi vítima de agressão em um caso que envolveu eleitores do candidato à presidência, Jair Bolsonaro (PSL). Nelson Eugênio Pinheiro, que pertence a Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), foi encaminhado para a 12ª Delegacia de Polícia após desentendimento com camelôs que vendiam camisetas desse candidato.
Três dias depois, 7, dia da eleição do primeiro turno, o mestre de capoeira, Romualdo Rosário da Costa, mais conhecido como Moa do Catendê, foi morto a facadas após discussão política em um bar, no Engenho Velho de Brotas, em Salvador. O capoeirista era contrário às ideias de Bolsonaro, que estavam sendo defendidas pelo seu agressor, e, além disso, se declarou eleitor do Partido dos Trabalhadores (PT).
Em Vitória da Conquista, também no dia da eleição, a professora da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (Uesb), Marília Flores Seixas de Oliveira, foi agredida dentro do seu próprio condomínio por um apoiador do candidato do PSL. No dia dos professores, a universidade divulgou uma nota comemorativa a data festiva e também em solidariedade à professora e em repúdio ao acontecido.
“Gente, fui agredida em meu prédio, por um bolzonazi convidado do meu vizinho do segundo andar, que, bêbado, ao portão, não suportou ver chegar em meu próprio portão a minha amiga com o neto dela, de 3 anos de idade, para uma visita pós votação, porque ambos estavam com o adesivo 13. Fui empurrada, agredida verbalmente, e a agressão continuou… o babado foi forte, meu lábio abriu, sangue desceu… mas maiores são os poderes de deus”, explicou a professora no seu perfil no Facebook.
Foto de capa: Arquivo Pessoal/ Alberto Heráclito